O que é beleza?
Existe uma regra ou medida?
Impossível falar sobre beleza, sem voltarmos nossos olhos para a história da filosofia e da arte. A Estética é a disciplina da filosofia que estuda a arte e o belo. A origem do nome refere-se ao grego aesthesis, que significa percepção.
Percebemos o mundo com nossos sentidos, criamos representações do que percebemos em idéias, conceitos e imagens artísticas. Assim, cada época, influenciada por essas idéias e representações, terá os seus, digamos, padrões do que é belo.
Nossa prática como cirurgiões plásticos é muito influenciada por padrões clássicos de beleza, que remontam à tradição greco-romana, imortalizada em obras daquele período e do Renascimento. Sendo assim, muitas das medidas que utilizamos como guias para alguns procedimentos e cirurgias, revelam as ideias de simetria e proporção, herdadas do classicismo.
Por exemplo, na análise facial, dividimos a face horizontalmente em terços (superior, médio e inferior) e verticalmente em quintos, e buscamos proporção entre essas divisões. Um conceito clássico também é o da proporção áurea, na qual o número Phi seria a resultante de uma razão presente em diversas formas que se expressam intuitivamente na natureza.
Essa razão representaria perfeição e harmonia, unindo a matemática à ideia de uma arquitetura da natureza. Toda essa geometria é aplicada em relações das distâncias entre os olhos com o nariz, relação entre os lábios, ângulos da face, posição do supercílio e assim por diante.
Mas a influência do classicismo em nossas representações de beleza, logo, depreende uma questão importante: essas, muitas vezes, são cânones de beleza um pouco restritivos. Em uma sociedade que é cada vez mais multicultural, o respeito às particularidades étnicas e a apreciação da beleza única de cada indivíduo devem ser também guias para o nosso trabalho.
A nossa arte torna-se rica quando valoriza todas as proporções, formas e cores. Por fim, algumas características marcantes, que associamos a conceitos de feio, muitas vezes estão relacionadas ao desenvolvimento e função prejudicados.
Por exemplo, a criança com o desenvolvimento da mandíbula alterado poderá respirar pela boca na infância, e vir a ter uma série de alterações faciais na idade adulta. Prejuízos funcionais como ronco e apnéia poderão estar presentes, assim como uma insatisfação com sua imagem.
Além disso, nosso olhar tende a considerar as características da juventude como belas e atrativas, pois o passar dos anos nos aproxima do momento em que adoecemos e morremos, e a ideia de finitude, tradicionalmente, não nos é muito aprazível.
E o que eu penso, intimamente, sobre tudo isso? Penso que a grande beleza é viva e está em todas essas percepções e expressões e, como a vida, contém perfeição e imperfeição, harmonia e mesmo caos, em alguns momentos. E sobre nossa busca pessoal por beleza? Penso que ela pode, sim, envolver alguma modificação em nossa aparência, desde que dentro de um contexto maior de autocuidado e autoaceitação.